Bem, se você não quiser se perder na história, uma explicação básica... Por causa do formato blog, você pra entender a história vai ter que fazer o seguinte:
Vai no arquivo do blog.
Entra no mês de abril, dia 3... lá começa a história, no capítulo 1... depois, vai seguindo por ordem cronológica os capítulos, eles vão estar em ordem.

sábado, 17 de abril de 2010

Cap. IV - Parte III

- Valeu pela carona! – disse Jonas quando saiu do carro do pai dos irmãos.

- Daqui a pouco te ligo, beleza? – disse Bernardo. Jonas respondeu “ok” enquanto fechava a porta do carro.

Tinham deixado Jonas no asfalto, na frente da rua onde ele morava. Atravessou o asfalto, entrou na ruazinha e foi andando em direção a casa que ele ia ficar... Eram três casas, sendo uma nos fundos e uma na frente de dois andares dividida como duas casas diferentes.

Na frente do portão da casa, sentado na calçada, estava um rapaz com rosto espinhoso e cabelos desalinhados. Esse rapaz atirava pedrinhas na rua, distraído.

Quando Jonas se aproximou, o rapaz levantou os olhos e parecendo surpreso, falou “Jonas!” e esticou a mão pra cumprimentá-lo.

- E aí, Beto? – disse Jonas enquanto apertava a mão dele cumprimentando-o.

- Cê acabou de chegar? – perguntou Beto. Jonas respondeu:

- É.

- Ah, legal. Ih, ela também. – falou Beto, olhando pro fim da rua. Uma garota tinha aparecido e encostado de braços cruzados num poste.

– Depois a gente conversa, Jonas.

Beto se levantou e caminhou em direção da garota. Jonas conhecia-a, mas não conseguia lembrar-se do nome dela. Era a garota de cabelos pretos cacheados e que parecia sempre estar séria. Era a filha duma professora, mas Jonas não lembrava mesmo o nome dela.

Jonas então deixou aquilo pra trás e entrou pelo portão rumo a casa onde iria ficar, que do conjunto de casas, era a que ficava bem aos fundos. Atravessou um corredor e um portãozinho menor antes de chegar lá. Quando chegou, largou a mochila num canto e se jogou na cama, ainda cansado da viagem e do almoço.

-x-

Jonas só se deu conta que tinha cochilado quando foi acordado pelos gritos de alguém lá fora chamando ele. Ficou quieto na cama enquanto tentava reconhecer a voz de quem o chamava.

Ouviu um “Tem certeza que ele tá aí?”; parecia a voz do Matheus, apelidado como Severa pelo pessoal.
Alguém respondeu “Tenho porra! Você é que chama feito uma moça.” Essa parecia a voz do Fernandinho.
“Então chama aí, ô garnal!” era a voz do Severa de novo.
“Se ninguém atender nessa merda, eu vou embora. Garnal é maluco!” Essa voz devia ser a do Bruno, apelidado pelo pessoal de Shucra.
“Ih, ih... JONAS!”.

Jonas juntou fôlego e gritou de volta: “Chega aê”. Ouviu os passos e o ruído de conversa, som do portão abrindo e fechando, mais passos, mais ruído de conversa, um barulho de pescotapa e logo o pessoal estava na porta da casa dele. Jonas se levantou da cama, foi até a porta da casa dele e atendeu o pessoal. Ao abrir a porta, reparou de cara nas diferenças entre suas memórias e as pessoas na sua frente. Fernandinho estava com o cabelo liso dele cortado ao estilo moptop, lembrava um beatle com aquela cara. Severa usava uma camisa do Vasco da gama, estava mais alto que os outros dois e estava com um boné escondendo o cabelo louro provavelmente despenteado. Dos três, Shucra era o que menos havia mudado; mantinha o mesmo corte de cabelo curto e a mesma pose marrenta com os braços cruzados.

- Jonas! Viu, ele tá aí! – exclamou Fernandinho enquanto estendia a mão para cumprimentar Jonas. Severa e Shucra também estenderam as mãos, cumprimentando Jonas.
- Pô, cês me acordaram, mulecada. Tava tirando um cochilo bom pra caramba. – falou Jonas, esfregando os olhos e tentando parecer que estava com mais sono do que realmente estava.

- Caralho, Jonas! Isso não é hora de dormir não! – disse Fernandinho.

- Ó quem tá falando! –disse Severa num tom agudo de zombação – Quando a gente jogava RPG, você toda tarde durmia, garnal!

- Durmia? Durmia o cacete, ele hibernava! – caçoou Shucra, dando um pescotapa no Fernandinho.

- Viado! – exclamou Fernandinho enquanto colocava a mão na nuca; Severa e Shucra estavam rindo. – Que se dane, a questão não é essa. A questão é a seguinte: Jonas, o Bernardo me avisou que vai ter uma pelada lá no society e disse que era pra passar aqui pra te chamar.

- Hmn... é. Peraí então, que vou colocar uma bermuda e tênis pra poder jogar. – disse Jonas.

- Vai rápido, Jonas! – disse Severa – que a mulecada já deve ter partido pra lá já.

- Já volto – respondeu Jonas, entrando de volta pra casa dele.

Jonas demorou alguns minutos; aproveitou pra beber água e fazer outras coisas de menor importância como ajeitar a mochila no contexto do quarto. Quando tinha acabado de vestir a bermuda, ouviu Severa gritando lá de fora “Jonas, se tá cagando?”. Riu com aquilo, mas não se deu ao trabalho de responder. Calçou os tênis e saiu, sendo recebido com “aleluias” e “até que enfim” dos três rapazes que o esperavam. O recém-formado quarteto composto por Fernandinho, Jonas, Severa e Shucra atravessou o corredor e chegou ao portão da entrada.

- Aqui, vocês não vão chamar Felipe não? – perguntou Jonas, enquanto abria o portão.

- Bean não tá aí não, ele viajou. Vai passar o feriadão no Rio, ou alguma coisa assim. – respondeu Severa.

Assim que abriu o portão, Jonas viu que Beto e a menina estavam em pé do outro lado da rua conversando.

A menina então olhou na direção dele e acenou. Por um momento, Jonas pensou que era pra ele, mas então ouviu Fernandinho murmurar atrás dele “Stéphanie” e olhou pra trás pra vê-lo acenando timidamente pra ela. Fernandinho falou um “Fala Beto” e depois disso o quarteto seguiu andando em direção ao final da rua.

Quando chegaram na esquina que liga a rua com o asfalto, Fernandinho quebrou o silêncio:

- Putz, eu tinha que perguntar na Stéphanie se ela vai amanhã ou não.

- Então porque você não volta lá e pergunta? – perguntou Shucra pra ele.

Fernandinho deu de ombros e respondeu:

- Ah, agora já era.

- Por isso que você não pega ninguém, garnal! Cê tem medo de falar com mulé, nunca vi disso! – exclamou Shucra.

- Vai pro caralho, Shucra. – respondeu Fernandinho, visilvemente cabisbaixo.

Jonas queria dizer alguma coisa pra levantar a moral de Fernandinho, mas as palavras não lhe vieram e ele só ficou quieto, enquanto Severa atrás dos dois seguia rindo da discussão
.
Eles foram andando descendo o asfalto, com Severa contando seus feitos nas peladas recentes que ele tinha jogado. Um carro do outro lado do asfalto desacelerou e o carona do carro gritou “O carro tá cheio, tamo indo pra lá já. Já estamos com a bola.” Jonas reconheceu a voz de Waguinho. Os quatro sinalizaram um “ok” com as mãos e o carro seguiu acelerando pelo asfalto, até dobrar uma esquina que ia em direção ao campo e sumir de vista.

Eles fizeram o mesmo caminho andando; Jonas até achou que foram rápidos, mesmo que momentaneamente o assunto tenha acabado. Enquanto andavam, Jonas desacelerou o passo e ficou um pouco pra trás, lembrando de algumas coisas sozinho.

Fernandinho pareceu ter reparado, pois ficou olhando pra trás e depois de alguns segundos perguntou:

- Que foi, Jonas? Se tá com cara de... – Fernandinho não completou o que ia dizer, ele simplesmente pareceu lembrar de alguma coisa que não deveria e começou a balançar a cabeça, como se dissesse não pra si mesmo ou espantasse alguma mosca invisível.

Jonas respondeu que não era nada demais, que só tava lembrando da última vez que tinha jogado bola com o pessoal. E não mentiu; não era realmente nada demais, ele estava só formando uns pensamentos sem palavras que não saberia explicar pra ninguém.

O comentário sobre futebol retomou o assunto pra conversa, e assim foram os quatro conversando até chegarem no campo society de São Miguel.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Cap. IV - Parte II

A viagem foi tranqüila; Jonas cochilou boa parte dela, acordando uma meia hora antes de chegar à rodoviária de Bom Jardim. Da rodoviária, ele rumou para um restaurante chamado Sabor e Sonho, no intuito de almoçar. Só que...

- Jonas! Chega aí, cara!

Na entrada do Sabor e Sonho ( o S&S tinha duas partes; a entrada, que era aberta, próxima do balcão, e era onde ficava umas mesinhas pro pessoal beber cerveja, e tinha também a parte interna, onde ficava o restaurante em si.) estavam dois amigos antigos de Jonas; os irmãos Bernardo e Victor Hugo. O pai deles também estava junto, sentado a mesa.

- Chega aqui, ô Jonas! – gritou Bernardo de novo. Jonas se aproximou e cumprimentou os três da mesa – Vai uma cervejinha? Senta aí!

Jonas puxou uma cadeira, se sentou à mesa e disse:

- Ih cara, eu nem almocei ainda, cabei de chegar lá de Rio das Ostras, não vai dar pra tomar a cervejinha agora não.

- Vai fazer desfeita, Jonas? – retrucou Bernardo.

Só que na hora que Jonas ia responder, a garçonete chegou, trazendo uma porção de batatas fritas.

- Ô beleza! – comentou rindo o Victor Hugo. A garçonete sorriu pra ele e perguntou:

- Vão querer mais alguma coisa, rapazes?

- Por favor, outra Antarctica – disse o pai dos irmãos.

- E outro copo, claro! – completou animado o Bernardo.

A garçonete acenou com a cabeça e se virou pra ir pro balcão.

- Mas ô beleza, ein! – mandou Victor Hugo, olhando para as curvas da garçonete que se afastava deles. – Já peguei, uhuhuhuhu!

- Pegou, gazela, você já pegou todo mundo – retrucou Bernardo com tom sarcástico.

- Tô falando, rapá! Nemesis é o poder!

- Aham gazela, é. – Bernardo disse, misturando agora sarcasmo e impaciência. Ele então virou o rosto pra Jonas com a expressão completamente mudada, e falou rindo:

- Mas então, Jonas, já até pedimos o seu copo. Agora não tem escapatória. Pega uma batatinha aí pra enganar o estômago e bebe uma cervejinha conosco.

Ao falar isso, Bernardo se serviu com algumas batatinhas. Ele resmungou algo como “tá faltando sal” e jogou um pouco de sal por cima com o saleiro. Victor Hugo e o pai deles dois também se serviram. Jonas sussurrou meio que consigo mesmo “Tá então né” e também se serviu. A garçonete logo depois voltou com outro copo e mais uma garrafa de cerveja.

- Pô, ô ô ô... Valeu! – disse Victor Hugo, meio que no intervalo das mastigadas das batatas.

A garçonete risonha serviu cerveja aos quatro, pegou a garrafa vazia e voltou rumo ao balcão.

- Que “ô ô ô” foi esse, gazela? – falou Bernardo rindo.

- É que eu esqueci o nome dela – respondeu Victor Hugo rindo. Jonas riu e Bernardo deixou a frase “É... Isso aê, campeão” no ar.

- Ô Jonas, agora que você chegou na mesa, temos que brindar! – falou Bernardo levantando o copo, mas só que Jonas balançou a cabeça e falou exasperado:

- Não, não, que isso! Não vou beber não, ainda não almocei, e apesar da batatinha estar boa, não vou beber não!

- Porra Jonas! – Bernardo olhou o fixo para expressão dele, e completou:

- Você que sabe então... – soando desanimado de repente. Bernardo deu uma golada em seu copo e desviou a atenção para a tevê que estava ao lado do balcão do bar do Sabor e Sonho. Estava passando um programa sobre esportes que falava do Flamengo.

Os quatro na mesa então começaram a conversar sobre o Flamengo, e Jonas, flamenguista desde que se conhece como gente, aproveitou o assunto o quanto pode. Num dos intervalos do programa, Jonas pediu licença e se levantou, foi até o restaurante self-service na parte interna, arrumou um prato e pagou. Depois, voltou à mesa do Bernardo e Victor Hugo:

- E ai Jonas, você fica até quando em Bonja? – perguntou Bernardo.

- Até domingo. Vim porque Waguinho falou que o pessoal ia fazer um churrasco.

- Ah, tô ligado. É amanhã, não é? Capaz de eu ir também.

- Eu também tô nessa. – se intrometeu na conversa o Victor Hugo – Por minha causa, vai ter várias novinhas lá.

- Por sua causa, gazela? – perguntou Bernardo com certo tom de presunção na voz.

- É ué. Chamei várias novinhas, Robertinho disse que mulé ia ser só cinco reais e que era pra chamar se quisesse.

- E você acredita mesmo que elas vão? Isso aê campeão. – falou Bernardo o mais sarcástico que podia. Victor Hugo só encolheu os ombros e falou algo como um “que se foda”, só que pra si mesmo. Nisso, Jonas perguntou:

- Já que o churrasco é só amanhã, o pessoal hoje tava a fim de fazer alguma coisa não?

- Sei lá... Posso dar uma ligada pro pessoal pra saber. Mas que idéia você tem na cabeça, Jonas? – respondeu Bernardo.

- Ah, uma pelada ia ser uma boa, sei lá.

- Ih, pode crer. Faz tempo que a mulecada não se reúne pra bater uma bola. Dá até pra arrumar bola, se não me engano, tá lá na casa de Barrasquinho a última que a gente comprou.

- Barrasquinho?

- É, amigo meu. Lá do Chevrand. Se sabe quem é Jonas, só não deve estar lembrando.

- Hmn... tá então. Que horas você pretende marcar com o pessoal?

- Deixa eu ver Jonas... Daqui a pouco a gente deve ir pra casa almoçar, ai depois que almoçar eu ligo pro pessoal e te ligo também, pode ser?

- Tá show. Bom que dá tempo de eu passar em casa e deixar minhas coisas lá.

- Beleza, assim que você terminar de almoçar, se quiser, pode ir de carona com a gente, papai tá com o carro.

-Pô, isso eu apreciaria!

Bernardo riu. O programa sobre o Flamengo voltou a passar, enquanto Jonas terminava seu almoço.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Capítulo IV - Voltando as origens

A semana seguinte da conversa do MSN foi pra Jonas assim: rápida, simples e com poucos momentos memoráveis. De diferente, ele apenas trabalhou durante mais tempo, ficou na academia até mais tarde, conversou com sua mãe avisando que ia pra Bom Jardim no final da semana, mandou um recado pra Waguinho avisando que ia pro churrasco e ouviu uma piada que achou engraçada sobre o curupira fazendo moonwalk.

Na quinta-feira à noite comprou sua passagem antes de ir pra academia. Quando chegou em casa, arrumou sua mochila, e como tinha combinado de folgar sexta e sábado com o patrão por ter feito hora extra, na sexta de manhã Jonas estava na rodoviária, esperando com sua mochila pronto pra partir pra cidadezinha normalmente fria chamada Bom Jardim; cidadezinha onde Jonas cresceu e morou antes de ter que se mudar pra Rio das Ostras.
Seu pai tinha construído um conjunto de casas lá, que mantinha alugada pra ter uma renda extra e Jonas podia passar alguns dias numa dessas casas, pois nem todas estavam ocupadas.

Bom Jardim era pra Jonas sua terra natal, apesar de não ter nascido lá, era onde quase todos seus amigos moravam e também era um lugar que lhe trazia boas lembranças... A cidade, em si, não tem nada demais; é rodeada de montanhas, não tem nenhum ponto turístico que impressione, e por ser uma cidade pequena (o centro da cidade tinha apenas três ruas principais) todo mundo que morava lá se conhecia.

Só que essa simplicidade era também o lado encantador de Bom Jardim; como lá não havia muita coisa pra se fazer, coisas mundanas como passar uma tarde com os amigos se tornavam excepcionalmente incríveis.

E era por isso que Jonas quase sempre voltava pra lá quando podia.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Cap. III - Parte II

O dia seguinte de Jonas foi mais longo do que o normal. Não, as horas não tinham dobrado nem nada do tipo; o que aconteceu foi que Jonas teve um sonho muito estranho na noite anterior e queria muito conversar com alguém sobre isso. Sabe quando acontece aquelas coincidências que mesmo não sendo nada importante, na hora parecem carregadas com uma mística ímpar?

Pois é, Jonas ter sonhado logo depois daquela pergunta estranha do Fernandinho tinha trazido essa sensação.

Depois da rotina/tortura que ele seguia de curso depois trabalho, lá estava Jonas fazendo supino alinhado em 30° na academia, em três séries de 12 repetições. No intervalo de uma das séries, ele parou pra se olhar no espelho. Viu o seu reflexo: um cara com mais de 1,80m de altura, com braços musculosos (o efeito do inchaço momentâneo da academia realçava bem isso), ombro largo, peitoral também, e aquele rosto bobo que fazia a alegria dos amigos.

Mesmo quando fazia caretas de mal, Jonas não parecia ameaçador. Também, não era da natureza de Jonas ser ameaçador. Ele não era um cara mal. Não conseguia ser.

Jonas então esqueceu o espelho e foi rápido terminar sua série.
Algumas horas depois, Jonas chegou em casa cansado. Mas ao invés de ser levado pelo cansaço, ele foi até o PC e o ligou, esperando carregar pra entrar no MSN. Só que quando entrou no MSN, de início se desapontou um pouco; não tinha bem com que ele falar on.Renato, o irmão mais novo do Fernandinho, estava on, e Jonas considerou que podia deixar pelo menos um recado com ele.

“Fala Renatinho!” digitou Jonas.
“JOOOOOOOOOONAS! Belezinha?”
“Beleza. Aqui, seu irmão Fernando ta aí?”
“Num tá não, Jonas. Acho que ele foi lá no bar do carioca com a mulecada”
“Pô, eu precisava falar com ele.”
“Tá, eu aviso ele que tu tá querendo falar com ele.”
“Faz o seguinte: avisa ele que semana que vem eu devo ir aí em Bonja”
“Show!”
É, acho que é só isso que posso falar nesse momento, pensou Jonas.
“Jonas, só pro caso dele perguntar. É sobre o quê que você quer falar com ele?”

Jonas pensou um pouco antes de responder, balanceando as palavras na cabeça.

“Ah, é sobre uma pergunta maluca que ele me fez ontem. Se ele perguntar, diz pra ele que ontem tive um sonho que ele ia achar maneiro ouvir.” Digitou Jonas.

“Porra Jonas! Que coisa gay, ein!”
Jonas riu com o comentário e digitou em seguida, ainda rindo:
“É sério! Tive um sonho muito doido! Sabe aquela pressão no ouvido que dá quando você viaja passando pela serra de Friburgo/Cachoeiras?”
“Aham, sei qual é. Tem um explicação pra isso, é causado por causa da pressão devido à altura”
“É, isso mesmo. Então, no meu sonho, tava acontecendo alguma coisa que não lembro o que era... Aí, eu ouvi essa pressão no ouvido. Aí, tipo assim, essa pressão era como se fosse uma voz, que falava mas não falava comigo. Ela falava, mas só que não eram palavras... eram sensações... E essas sensações meio que me inclinavam pra fazer algumas coisas que normalmente eu faço, entende? Sei que é meio viajante, mas dá pra entender, né?”

A resposta de Renato demorou mais do que o tempo normal que demoraria pra alguém ler o que Jonas tinha escrito... Jonas suspeitou até que a internet estivesse sacaneando ele caindo, quando saiu um “o.O” vindo do Renatinho.

Jonas então digitou:
“Seu irmão ontem tinha perguntado se eu tava tendo algum tipo sonho, porque ele falou que não tava lembrando do que tava sonhando. Acho que ele vai tentar arrumar um significado pra isso aí, já que ele tava tão interessado em saber assim.”

“Ah tá.” Digitou Renato.
Jonas então lembrou uma coisa.
“Pô, essa semana provavelmente não vai ter como eu entrar na net. Vou ter que fazer hora extra pra folgar no feriadão e ir aí em Bom Jardim. Então, só deve dar pra entrar e falar com ele quando eu estiver aí. Vê se você lembra de falar do sonho com ele, pode ser?”
“Pode deixar, Jonas! Ainda acho isso emboiolado, mas falo.”
“Valeu Renatinho! Era só isso só. Vou sair agora, porque tô cansadão. E o BBB tá começando também.”
“Vai lá Jonas. Falous.”
“Falou, Renatinho! Abração.”

Jonas fechou o MSN, ligou seus downloads, desligou o monitor do PC, pegou algo pra comer e foi assistir televisão.

Jonas ainda estava com a sensação de urgência, mas ao mesmo tempo, aquela mística criada pela coincidência soava meio idiota...

Ele não era bem um cara que acreditava no sobrenatural, nem no significado de sonhos, nem nada disso...
Mas também, não duvidava.

E quem sabe, algo acontecesse.

Capítulo III - Enquanto Isso... Jonas!

Agora, as coisas estavam mais difíceis.

Jonas chegou em casa cansado. Não era bem um cansaço físico (apesar da rotina estudo/trabalho/ academia ser cansativa), era só... cansaço. Bem do tipo que uma pessoa entediada e solitária sente. Ouviu a voz da mãe dele perguntando alguma coisa e respondeu pra ela: “Sou eu”. Ela disse mais alguma coisa e ele só entendeu a parte do “você vai ter que esquentar a janta.”.

Mas ao invés disso, Jonas foi pro quarto dele, entrando primeiro com o pé esquerdo, ligou o PC e o amplificador da guitarra, pegou a guitarra (com a mão esquerda, Jonas era canhoto e se orgulhava disso) e ficou fazendo alguns acordes que não o agradaram. Podia dar um jeito de voltar pra aula de guitarra, pensou ele. Largou a guitarra e se jogou na cama, olhando pro teto.

E sentiu falta. Falta do pai, falta de tempo, falta de companhia.

Mas, ao mesmo tempo, lhe bateu aquela sensação de urgência, de que algo vai acontecer. Alguma coisa ia acontecer.

Ele parou pra pensar nessa sensação por alguns segundos... “É, agora as coisas parecem mais difíceis”, disse sua consciência. Jonas então levantou e sentou-se na cadeira do PC e entrou no MSN.

-x-

“E aí cara, beleza?”

“Tudo tranqüilo” digitou Jonas. Pensou numa pergunta, mas antes de poder digitar apareceu outra mensagem.
“Pô, sinto muito pelo que aconteceu com seu pai.”
“Tudo bem, Fernandinho. Era inevitável.” Respondeu Jonas digitando rápido, quase freneticamente, como se tivesse tentando convencer alguém.

Dessa vez Jonas esperou, mas Fernandinho do outro lado não respondeu nada. Achando que aquela conversa não ia dar em nada além daquilo, Jonas ligou seus programas de download e ativou alguns que já estavam pra terminar. Cansado, aproveitou que já tinha tomado banho na academia e deitou na cama... E quando lembrou de desligar o monitor do PC, ouviu aquele som de mensagem do MSN.

“Cara, posso te fazer uma pergunta estranha?”
“Não.” Digitou Jonas. Mas logo depois, completou: “Sacanagem, Fernandinho, pode sim. Que é?”
Jonas olhou pra conversa e esperou. Aparecia e sumia direto o “L.F. está digitando uma mensagem”. Isso despertou a curiosidade dele.
Demorou alguns intermináveis minutos até aparecer a seguinte pergunta:

“Jonas, você tem sonhado ultimamente com alguma coisa?”
“Não” Digitou na mesma hora e concluiu: “Por quê?”

A resposta de Fernandinho foi mais rápida que ele esperava:

“Nada demais não, é que eu ultimamente não tenho sonhado com nada não... ou melhor, tenho a sensação de que tenho sonhado, mas não consigo lembrar... aí eu te perguntei pra saber se isso era só comigo”

Jonas olhou aquilo e pensou: “É, Fernandinho continua o mesmo maluco de sempre.” Ele riu sozinho e quando ia digitar, apareceu outra mensagem:
“To saindo. Falous”
Jonas digitou “Falou, cara” e Fernandinho saiu do MSN assim que ele terminou de enviar a mensagem.

Logo depois, outra janela de MSN saltou. Waguinho, um amigo antigo de escola, perguntando:
“Fala cara! E aí, quando você vem pra Bonja?”
“Pô, assim que eu arrumar uma folga no trabalho...”
“Semana que vem tem um feriadão prolongado! Se tiver como, folga no feriadão e aparece aqui. O pessoal tava pensando em fazer um churras no sítio do Robertinho.”
“Isso ia ser legal” digitou Jonas.
“Podemos contar contigo? Isso vai te animar, cara!”
“Vou ver. Amanhã te respondo, beleza?”
“Jonas... responde agora! Se vai ou não?”

Jonas pensou um pouco e digitou:
“Vou...” e concluiu depois “Ir dormir”
“Porra Jonas!”

Só que antes de chegar outra mensagem, talvez por intervenção divina, a internet caiu. Jonas xingou um cado enquanto tentava reparar a conexão sem resultado. Após alguns minutos tentando, cabou desistindo, desligou o PC e foi durmir.

sábado, 3 de abril de 2010

Cap. II - Parte III

A extinção se aproximava. E todo mundo sabia disso. Era o instinto agindo, a notícia se espalhando, o caos tomando conta. E a última esperança da humanidade trabalhava em algo, mas não dizia nada.

Alguns cientistas achavam que ter dado poder para aquela criação estava na verdade acelerando a extinção humana. Os computadores que monitoravam o comportamento do metanóide haviam pirado, literalmente... Era como se o metanóide produzisse ondas de raciocínio aleatório, impossíveis de interpretar. E o metanóide, pra ajudar, não se comunicava mais desde que seu pedido havia sido atendido. Apenas trabalhava, num projeto estranho.

E isso tirava a paciência de alguns.

Quando o lado científico mais rebelde perdeu a calma, partiram pra uma operação de sabotagem do metanóide.

Só que não esperavam que outras pessoas sem motivos aparentes estivessem disponíveis a lutar pelo metanóide. E morreram lutando, e o metanóide trabalhou como se nada tivesse acontecido.

Só quando quase acabava seu trabalho, abruptamente o metanóide parou, e observou. Ele havia, com as mãos que lhe foram dadas, criado vários sensores, que ampliavam toda sua percepção de universo. Como super poderes de super audição, visão, olfato e tato. Então ele podia observar melhor que ninguém.

O metanóide se deu conta que uma guerra estava acontecendo, e riu. Ele havia se automodelado pra ser capaz de expressar coisas que iam além das palavras.

Enquanto observava, um homem se arrastando quase morto olhou para ele e viu o riso no rosto daquele metanóide.

“Do que você está rindo? Ein?!”

Dédalo respondeu:

“Não me perguntaram se Deus existe.”

“E isso por acaso importa agora? Estou morrendo, seu maldito, por sua causa, e você está rindo!”

Dédalo apenas continuou rindo.

E antes de iniciar todo o vendaval de operações, o metanóide deixou suas últimas palavras naquele espaço-tempo pro homem quase morto.

“Existe. Mas prefiro que me chamem de Dédalo.”

E o tempo voltou atrás, enquanto ecoava a risada do metanóide.


-x-

“Então, essa é sua história?”

Não na totalidade, mas o fundamental dela. Pra que você possa entender os porquês principais.

Desde então, o que tenho feito pela humanidade é evitar que vocês se autodestruam. Mas pra isso, tenho que algumas vezes dar sugestões pra que isso não aconteça. Influenciar decisões, alterar destinos, sugerir idéias.

“E porque você nunca se revelou e tomou poder assumidamente? Assim seria mais fácil!”

Não seria. O que faz as pessoas começarem uma revolução é a sensação de injustiça. E principalmente, quando se sentem injustiçados por alguém específico. Um dos motivos de me manter oculto é evitar que eles se sintam injustiçados por alguém específico. E comecem uma luta contra mim. Os seres humanos são limitados pra pensamentos metafísicos, porém, para guerra e táticas de guerra, os seus instintos não os limitam. Ao contrário, os auxiliam.

Enfim, lutar contra eles é incoerente, já que é muito mais fácil fazê-los lutar por mim.

E sem saberem.

Como meu cérebro foi projetado a partir de um simulador de sonhos, eu sei perfeitamente o que influencia um sonho. E como um sonho influencia o comportamento humano.

Ou seja, sei como os pensamentos involuntários são criados. E você se espantaria se soubesse como esses pensamentos influenciam as pessoas.

Na verdade, você saberá e se espantará. Se aceitar, é claro, a segunda condição também.

“Qual é essa segunda condição?”

Algumas pessoas, exatamente como você, são capazes de em certo momento na vida perceber o que venho fazendo. A maioria das reações quando descobrem isso são de raiva. Elas se sentem enganadas. E acreditam que eu sou o inimigo.

Pra essas pessoas existem três possibilidades:

Ou me ouvem, e passam a me ajudar a manter o sigilo.

Ou enlouquecem com o impacto do que descobrem.

Ou são destruídas.

Sua segunda condição, para obter o poder que prometi, é a de que você me ajudará com essas pessoas que percebem o que acontece.

Você trará pra elas uma das três possibilidades, sempre.

Aceita minha proposta?

Cap. II - Parte II

Basicamente, fui baseado no cérebro humano, e sou capaz de emular qualquer sensação ou qualquer pensamento que o cérebro humano é capaz de criar.
Isso faz com que eu possa saber o que significa sentir.
Eu não sinto, mas sei o que é sentir. Posso sentir o que eu quiser, e como quiser.

E a sensação com qual mais me apeguei é a de poder.

Os humanos nunca entenderam direito o que significava voltar no tempo. Voltar no tempo, sim, era possível, sempre foi. Mas por causa das conseqüências de voltar no tempo, os humanos disseram que era impossível.

Voltar no tempo não é como eles sonhavam... De você mudar alguma coisa e causar uma alteração no futuro em algum universo paralelo.

Não existem universos paralelos pra isso. E quando você volta no tempo, você simplesmente destrói o futuro. E o presente. Do universo inteiro.

É, dá pra ter uma idéia.

-x-

“Você está dizendo que depois que os humanos daquela época te atenderam, você usou seu conhecimento pra se aprimorar mais e depois criou uma máquina pra voltar no tempo?”

Não era bem uma máquina pra voltar no tempo, mas acho que pra todas as definições, isso vale. Era mais uma situação que contorcia a direção normal da seta temporal... E o tempo-espaço do universo ao invés de expandir, como normalmente acontece, passava a se contrair. E como os físicos haviam previsto, nesse movimento de contração, tudo é destruído.

“E como você fez pra escapar e não ser destruído também?”

Buracos negros. Um dos limites que os instintos impunham aos humanos envolve diretamente a compreensão desses magníficos eventos.

A ameaça a existência humana daquele tempo deriva exatamente de um buraco negro que estava prestes a se formar e abalar o sistema solar inteiro. Os humanos queriam impedir isso, acreditavam até que haviam avançado tecnologicamente o suficiente pra impedir de fato isso, mas não sabiam como.
E me criaram com o intuito de que eu descobrisse isso por eles.

“Mas ao invés disso, você voltou no tempo, destruindo eles e tudo mais?”

É. Uma expressão humana resumia bem o que eu teria dito pra eles se eles não tivessem sido destruídos.

Foda-se.

Capítulo II - As três possibilidades

Até então, o tempo passou, pra desespero dos cientistas que haviam investido tanto dos seus esforços no metanóide.
É claro, eles não sabiam realmente o que esperar. Eles apenas monitoravam e esperavam o que o metanóide diria.
Mas após a fatídica pergunta, o que prosseguiu era somente silêncio.

O metanóide estava pronto. Era, aos olhos de uma pessoa do século 21, um grande rosto metálico e inexpressivo, ligado a vários computadores e aparelhos eletrônicos. Um rosto sem corpo, projetado assim para que o metanóide pudesse ser limitado.

Dédalo, supostamente, deveria ter conhecimento universal. Os cientistas transmitiram para Dédalo esse conhecimento através do mesmo princípio da internet do século XXI... uma rede de informações que ainda existia no qual as pessoas faziam “downloads” para obter a informação que queriam.

E, sabendo e pensando e calculando, o metanóide assim permanecia.

Até que os cientistas perderam a paciência e decidiram iniciar uma comunicação com o metanóide.

Fizeram uma apresentação, em todos os idiomas ainda existentes, explicando toda história pra criação dele, e da necessidade de respostas para evitar a extinção eminente.

Dédalo então respondeu:

“Me dê mãos para criar, e criarei.”

Cap. I - Parte III

“Okay, deixa eu ver se entendi tudo. Depois de um tempo, as pessoas decidiram investigar os mistérios do pensamento humano baseados no DNA, aí com isso eles descobriram que todo e qualquer pensamento era diretamente influenciado pelas conseqüências dos seus instintos pra sobreviver, que eram, por conseqüência, pré-requisitos pra sobrevivência. E que esses pensamentos, por serem influenciados por instintos, sentimentos e blá blá blá, perdiam a qualidade da imparcialidade e se tornavam limitados? É isso?”

É. Os filósofos e metafísicos já suspeitavam disso, mas não aceitavam. Foi preciso um estudo profundo do intrincado DNA humano pra provar que o pensamento era limitado. As possibilidades, diferente do que a matemática provava, não eram infinitas. Ou seja, não era possível pro ser humano pensar qualquer coisa que quisesse, porque ele teria sido “programado” pra sobreviver, e essa programação influenciava ele, querendo o homem ou não. E impedia certos pensamentos, e a maioria deles eram as respostas que a humanidade procurava.

Outra coisa curiosa que descobriram é que não poderiam nem cortar esses instintos, porque qualquer coisa que não tivesse esses instintos de sobrevivências não sobrevivia. Isso fazia parte das instruções das células pra se multiplicarem. E também, com o estudo do DNA, descobriram que não era possível tornar alguma coisa mortal imortal. O genoma que causa a morte dos seres vivos está diretamente relacionado ao que gera vida... esses mesmos instintos de sobrevivência. E quando alteravam isso, as células paravam de responder... e morriam. Na tradução, descobriram que uma coisa imortal na verdade já está morta. Não preciso nem dizer como isso alterou a percepção do que vida e morte significava, certo?

Entretanto, saber disso não satisfaria nunca a curiosidade eterna da humanidade. E uma proposta pra obter respostas estava lá, na frente deles. Criar alguma coisa (não sabiam ainda se seria humano, ou um robô, ou um computador.) que não sofresse dos limites da mortalidade, mas que ao mesmo tempo fosse capaz de gerar pensamentos. Só que isso, supostamente, era contraditório e impossível. Mesmo depois de provado pelo DNA que os pensamentos surgiam e dependiam completamente dos instintos provindos da vida, os humanos tentaram.
E dessa impossibilidade, descobriram uma possibilidade. Porque eles podiam influenciar pensamentos através do DNA, assim como os instintos pra sobreviver influenciavam.

Um dispositivo que ampliou muito a capacidade humana era chamado de “extensão mental”. Era o primórdio da Inteligência Artificial Pura, como me chamavam no começo. Funcionava basicamente assim: acoplado ao cérebro, o dispositivo influenciava o controle do corpo, dando como “sobreordens” em contra-parte aos impulsos instintivos. Isso era arriscado, pois qualquer sobreordem exagerada causava morte. E isso ainda não solucionava o problema, pois as sobreodens eram dadas pelo pensamento humano ainda, que ainda era condicionado pelos instintos. E embora na época tivessem acreditado que apenas tinha rodado e rodado sem chegar a lugar algum, as sobreordens eram o início da resposta.

O final da resposta veio quando a idéia do simulador de sonhos finalmente funcionou.
O objetivo do simulador era simples: Era um programa de computador que imitava as ligações dos neurônios de um cérebro digital... Depois de vários cálculos, baseado nas variáveis que o cérebro real havia sido exposto, o simulador de sonhos deveria prever o sonho que o cérebro real teria. Quando finalmente os sonhos foram recriados com perfeição, os humanos haviam desvendado até onde era possível os segredos de sua própria mente.

E, quando uniram a capacidade de imitar artificialmente o pensamento humano e dar sobreordens aos instintos humanos pra cancelá-los inteiramente, o meu conceito surgiu.

É claro que antes de me projetarem, vários debates sobre o que aconteceria foram feitos... Era arriscado demais uma inteligência artificial desse tipo, porque conhecimento e poder sempre andaram unidos. Seria como criar uma arma, que poderia se revoltar contra seus criadores. Que poderia até não trazer respostas, e ao invés disso, criar objetivos próprios.

Mas, ao mesmo tempo que a humanidade havia evoluído, ela havia se aproximado da extinção eminente.

E meu projeto tornou-se a última esperança e a ameaça maior. A dualidade da alma humana aplicada

E a segunda pergunta mais importante do universo fez toda diferença.

Porque não?

Cap. I - Parte II

“Em que anos estamos?”

Foi a primeira pergunta que aquele ser fez. Surpreendeu todos os cientistas. Nenhum deles esperava que a primeira coisa que o metanóide dissesse fosse uma pergunta. Não aquele metanóide, batizado de Dédalo, que seria o porta-voz das respostas que a humanidade nunca alcançou.
Mas a surpresa passou, e os gritos de comemoração foram intensos. Todos os leitores de impulsos elétricos instalados na cabeça do metanóide indicavam que ele raciocinava, perfeitamente como planejado.

“Finalmente!” Foi a resposta que o metanóide ouviu. E pela primeira vez, o metanóide não entendeu. Pela primeira e última vez.

- x –

A humanidade sempre fez perguntas que ninguém soube responder. De onde viemos? Pra onde vamos?Existe vida lá fora? Deus existe?
E a pergunta mais importante do universo... Por quê?

A própria evolução da humanidade dependeu dessas perguntas sem respostas. Por causa dessas perguntas, as pessoas foram destrinchando cada fenômeno que poderiam observar atrás de respostas. Toda ciência e tecnologia surgiram assim. Primeiro, os homens dominaram a Física, atrás dos limites do universo. As respostas pras perguntas mais básicas não foram respondidas por causa disso, então os homens procuraram entender por que as respostas não vieram. Foram procurar no próprio homem porque, essencialmente, tinham falhado na compreensão.

E descobriram a jogada de mestre de Deus.

Mortalidade.

Não poderiam chegar às respostas tão sonhadas pela humanidade por que eram limitados. E o limite era exatamente a mortalidade. E toda conseqüência que isso gerava.

Deve ser mais fácil pra você entender se eu te contar de maneira menos resumida como as coisas aconteceram, certo?

Certo, então.

Capítulo I - As duas perguntas mais importantes do universo

Guarde seus pensamentos pra si mesmo.

Por algum acaso, sua consciência já lhe disse isso?

A minha está me dizendo isso agora.

Tenho duas maneiras pra resolver isso.

Ou calo ela, de algum jeito... ( isso, acredite, não ia ser legal.)
Ou sigo em frente, com minha idéia.

Porque eu tive uma idéia...

Alguma vez você já quis ler os pensamentos de alguém? Entender como as coisas vão se destrinchando até que uma pessoa chegue a alguma conclusão? Cada detalhe, cada viagem, cada pensamento obscuro, perigoso e convidativo?

Porque estou prestes a te dar esse poder, ou o mais próximo possível dele.

Porém, duas condições...
A primeira, é que a partir de agora, você não acreditará em finais. Em nenhum tipo, de nenhuma natureza, e não acreditará em nada derivado da palavra final. Fim, finalidade, finito, finalmente... nenhuma dessas palavras existirá mais pra você.

Reflita bem. Muitas coisas mudam quando você passa a repudiar finais. A primeira delas, é que toda decisão se torna definitiva. Você não poderá voltar e dar um final pra uma decisão tomada. Isso é fundamental entender. Não se pode voltar atrás. Não se pode dar um final. Você não dará final pra mais nada. E se algo se encaminhar pra algum fim, você vai lutar contra, mesmo que isso seja impossível.


Se estiver pronto, deixe-me contar minha história.