A viagem foi tranqüila; Jonas cochilou boa parte dela, acordando uma meia hora antes de chegar à rodoviária de Bom Jardim. Da rodoviária, ele rumou para um restaurante chamado Sabor e Sonho, no intuito de almoçar. Só que...
- Jonas! Chega aí, cara!
Na entrada do Sabor e Sonho ( o S&S tinha duas partes; a entrada, que era aberta, próxima do balcão, e era onde ficava umas mesinhas pro pessoal beber cerveja, e tinha também a parte interna, onde ficava o restaurante em si.) estavam dois amigos antigos de Jonas; os irmãos Bernardo e Victor Hugo. O pai deles também estava junto, sentado a mesa.
- Chega aqui, ô Jonas! – gritou Bernardo de novo. Jonas se aproximou e cumprimentou os três da mesa – Vai uma cervejinha? Senta aí!
Jonas puxou uma cadeira, se sentou à mesa e disse:
- Ih cara, eu nem almocei ainda, cabei de chegar lá de Rio das Ostras, não vai dar pra tomar a cervejinha agora não.
- Vai fazer desfeita, Jonas? – retrucou Bernardo.
Só que na hora que Jonas ia responder, a garçonete chegou, trazendo uma porção de batatas fritas.
- Ô beleza! – comentou rindo o Victor Hugo. A garçonete sorriu pra ele e perguntou:
- Vão querer mais alguma coisa, rapazes?
- Por favor, outra Antarctica – disse o pai dos irmãos.
- E outro copo, claro! – completou animado o Bernardo.
A garçonete acenou com a cabeça e se virou pra ir pro balcão.
- Mas ô beleza, ein! – mandou Victor Hugo, olhando para as curvas da garçonete que se afastava deles. – Já peguei, uhuhuhuhu!
- Pegou, gazela, você já pegou todo mundo – retrucou Bernardo com tom sarcástico.
- Tô falando, rapá! Nemesis é o poder!
- Aham gazela, é. – Bernardo disse, misturando agora sarcasmo e impaciência. Ele então virou o rosto pra Jonas com a expressão completamente mudada, e falou rindo:
- Mas então, Jonas, já até pedimos o seu copo. Agora não tem escapatória. Pega uma batatinha aí pra enganar o estômago e bebe uma cervejinha conosco.
Ao falar isso, Bernardo se serviu com algumas batatinhas. Ele resmungou algo como “tá faltando sal” e jogou um pouco de sal por cima com o saleiro. Victor Hugo e o pai deles dois também se serviram. Jonas sussurrou meio que consigo mesmo “Tá então né” e também se serviu. A garçonete logo depois voltou com outro copo e mais uma garrafa de cerveja.
- Pô, ô ô ô... Valeu! – disse Victor Hugo, meio que no intervalo das mastigadas das batatas.
A garçonete risonha serviu cerveja aos quatro, pegou a garrafa vazia e voltou rumo ao balcão.
- Que “ô ô ô” foi esse, gazela? – falou Bernardo rindo.
- É que eu esqueci o nome dela – respondeu Victor Hugo rindo. Jonas riu e Bernardo deixou a frase “É... Isso aê, campeão” no ar.
- Ô Jonas, agora que você chegou na mesa, temos que brindar! – falou Bernardo levantando o copo, mas só que Jonas balançou a cabeça e falou exasperado:
- Não, não, que isso! Não vou beber não, ainda não almocei, e apesar da batatinha estar boa, não vou beber não!
- Porra Jonas! – Bernardo olhou o fixo para expressão dele, e completou:
- Você que sabe então... – soando desanimado de repente. Bernardo deu uma golada em seu copo e desviou a atenção para a tevê que estava ao lado do balcão do bar do Sabor e Sonho. Estava passando um programa sobre esportes que falava do Flamengo.
Os quatro na mesa então começaram a conversar sobre o Flamengo, e Jonas, flamenguista desde que se conhece como gente, aproveitou o assunto o quanto pode. Num dos intervalos do programa, Jonas pediu licença e se levantou, foi até o restaurante self-service na parte interna, arrumou um prato e pagou. Depois, voltou à mesa do Bernardo e Victor Hugo:
- E ai Jonas, você fica até quando em Bonja? – perguntou Bernardo.
- Até domingo. Vim porque Waguinho falou que o pessoal ia fazer um churrasco.
- Ah, tô ligado. É amanhã, não é? Capaz de eu ir também.
- Eu também tô nessa. – se intrometeu na conversa o Victor Hugo – Por minha causa, vai ter várias novinhas lá.
- Por sua causa, gazela? – perguntou Bernardo com certo tom de presunção na voz.
- É ué. Chamei várias novinhas, Robertinho disse que mulé ia ser só cinco reais e que era pra chamar se quisesse.
- E você acredita mesmo que elas vão? Isso aê campeão. – falou Bernardo o mais sarcástico que podia. Victor Hugo só encolheu os ombros e falou algo como um “que se foda”, só que pra si mesmo. Nisso, Jonas perguntou:
- Já que o churrasco é só amanhã, o pessoal hoje tava a fim de fazer alguma coisa não?
- Sei lá... Posso dar uma ligada pro pessoal pra saber. Mas que idéia você tem na cabeça, Jonas? – respondeu Bernardo.
- Ah, uma pelada ia ser uma boa, sei lá.
- Ih, pode crer. Faz tempo que a mulecada não se reúne pra bater uma bola. Dá até pra arrumar bola, se não me engano, tá lá na casa de Barrasquinho a última que a gente comprou.
- Barrasquinho?
- É, amigo meu. Lá do Chevrand. Se sabe quem é Jonas, só não deve estar lembrando.
- Hmn... tá então. Que horas você pretende marcar com o pessoal?
- Deixa eu ver Jonas... Daqui a pouco a gente deve ir pra casa almoçar, ai depois que almoçar eu ligo pro pessoal e te ligo também, pode ser?
- Tá show. Bom que dá tempo de eu passar em casa e deixar minhas coisas lá.
- Beleza, assim que você terminar de almoçar, se quiser, pode ir de carona com a gente, papai tá com o carro.
-Pô, isso eu apreciaria!
Bernardo riu. O programa sobre o Flamengo voltou a passar, enquanto Jonas terminava seu almoço.
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